A participação da audiência, no jornalismo ou na comunicação organizacional, é um assunto que sempre me interessou. Tanto que escolhi como tema para minha dissertação de mestrado. E continuo sempre me atualizando nas pesquisas e em como essa participação acontece na prática. Esse conjunto de modos de participação da audiência normalmente é chamado de jornalismo participativo, mas recebe diversos nomes, dependendo da abordagem do pesquisador. Na minha pesquisa de mestrado usei o termo prosumer, de Toffler (1980), que reúne as palavras produtor e consumidor. Mas esse é um assunto para outro artigo.
Recentemente o Reuters Institute publicou o Digital News Report 2023 que inclui dados sobre a participação da audiência na imprensa. Na pesquisa consideraram o engajamento ativo (postando ou comentando), o reativo (curtindo, lendo comentários ou compartilhando as notícias) e o passivo (em que não há participação).
Participação ativa
Participação reativa
Participação passiva
Fonte: Digital News Report 2023 – Reuters Institute
Comparando os dados coletados em 2018 e 2023, a participação ativa caiu de 33% para 22% dentre o total de entrevistados, a reativa cresceu de 25% para 31% e a passiva de 42% para 47%. No Brasil, a participação ativa está em 24%, a reativa em 34% e a passiva em 42%.
Meu primeiro comentário com relação à pesquisa é que eles consideram participação da audiência somente a reação a uma notícia. Depois de ter acesso a uma notícia o público lê os comentários, comenta, curte ou compartilha. As formas de engajamento analisadas são muito limitadas. Esse tipo de participação acontece somente após o trabalho do jornalista estar encerrado. E só irá influenciar a produção de notícias se o jornalista se interessar em analisar os comentários e o número de compartilhamentos. Se o assunto teve repercussão entre a audiência essa análise pode motivar a continuidade da cobertura ou gerar notícias semelhantes.
Aumenta compartilhamento por mensagens instantâneas
Quando analisamos os dados sobre as plataformas utilizadas para o acesso e compartilhamento observamos um descolamento ainda maior da origem da notícia. Historicamente, o acesso a notícias está migrando dos sites e aplicativos das empresas jornalísticas para as mídias sociais. Dado interessante mostra que enquanto 30% dos entrevistados acessam notícias por mídia social, contra 23% em 2018, o número de entrevistados que acessa notícias diretamente no site ou aplicativo diminuiu de 32% em 2018 para 22% na pesquisa deste ano. Já o compartilhamento por mídia social diminuiu de 26% para 19% e o compartilhamento por e-mail diminuiu de 12% para 7%, enquanto o compartilhamento por aplicativos de mensagem cresceu de 17% para 22%.
No Brasil 42% dos entrevistados compartilham notícias por mídia social, aplicativos de mensagens ou e-mail. O WhatsApp é o principal meio de acesso a notícias com 43%, com YouTube vindo em seguida com 41%, Instagram com 39%, Facebook com 35% e Twitter e TikTok ambos com 14%.
Fonte: Digital News Report 2023 – Reuters Institute
Vale destacar também que os jovens preferem consumir notícias pelas mídias sociais ou outras plataformas que intermediam esse acesso. Isso aponta uma tendência de diminuição no tráfego dos sites e aplicativos de empresas jornalísticas. Da mesma forma a nova geração opta por assistir ou escutar a notícia. O crescimento do YouTube e do TikTok como formas de consumo de notícias corrobora a necessidade de a indústria jornalística adaptar seu produto. E quando falamos em vídeos, novamente as plataformas sociais aparecem como destaque. Dos entrevistados, 62% assistem vídeos por uma ou mais plataformas sociais, 28% via site de notícia ou aplicativos e 28% não assistem vídeos.
A pesquisa é importante porque contribui para uma área em que há poucos dados para se trabalhar. Mas é limitada ao considerar somente as formas de engajamento mais simples, em que há pouca ou nenhuma interação entre o jornalista e o público.
Entendo que a participação da audiência pode ter papel fundamental no engajamento com as notícias e no fortalecimento do papel do jornalismo na sociedade. Porém, para isso, a participação precisa ir muito além de reagir a notícias publicadas. Deve considerar o engajamento no processo de produção da notícia. Se houver abertura, a participação da audiência pode ter muitos outros formatos.
As situações em que há uma maior participação da audiência são em pequeno número e normalmente são estudadas isoladamente. Na minha pesquisa de mestrado estudei como o jornalista adequa e utiliza as imagens produzidas pela audiência. O envio de imagens pelo público para a imprensa é uma forma comum de participação. E o consumo de produtos nas plataformas de vídeo reforça o interesse do público por vídeo. É uma oportunidade de os jornalistas ampliarem o engajamento com o público. Para isso também precisam repensar como utilizam a imagem produzida pela audiência. Minhas conclusões na dissertação apontaram que o uso da imagem é prioritariamente uma forma de diminuir custos de produção, com o benefício de gerar um relacionamento com a audiência.