O que desestimula a participação da audiência no jornalismo?

Pesquisadores da Holanda publicaram um artigo com os resultados de uma pesquisa sobre a participação da audiência no jornalismo. Eles analisaram os motivos que desestimulam a participação da audiência. O artigo “Be cautious or be cancelled: News audience’s motivations not to participate in online journalism” apresenta as conclusões baseadas em entrevistas semi-estruturadas com oito pessoas abaixo de 30 anos e oito pessoas acima de 50 anos na Holanda. Acesse a íntegra do artigo.

Por que o engajamento é importante? Os pesquisadores reforçam que a participação da audiência auxilia a empresa jornalística a melhorar a qualidade da notícia, aumentar a lealdade de sua audiência e se manter relevante e economicamente viável.

Como eles classificam a participação no jornalismo? Uma das contribuições do estudo é uma listagem bem completa das formas de participação, que os autores dividem em quatro níveis, de acordo com o esforço necessário para a participação:

Consumo ativo: Interpretar e debater com conhecidos, familiares e amigos

Participação casual: compartilhar notícias, responder pesquisas e comentar nas notícias online.

Nível alto de participação: oferecer feedback detalhado e fornecer imagens, informações ou ideias para notícias, atendendo pedido dos jornalistas.

Cocriação: produzir notícias com jornalistas ou produzir notícias independentes para publicação em veículos profissionais.

O que desestimula a participação da audiência no jornalismo?

Os autores agruparam as motivações apontadas pelos entrevistados para a não participação. Foram definidas cinco categorias, de acordo com o fator determinante que desestimula a participação. Conheça os fatores que desencorajam a participação, em ordem de importância.

Outros usuários – atitudes negativas na comunidade online

Os entrevistados se sentem vulneráveis e têm a percepção de que a internet não é um espaço seguro para a interação. Os relatos apontam o desconforto com a possibilidade de reações hostis, com a cultura do cancelamento e com polarização. Os usuários também se mostram desmotivados pela falta de qualidade no debate e citam a abundância de comentários com opiniões infundadas ou sem conteúdo. Mencionam, ainda, que o formato desenvolvido para a interação nos comentários ou outras ações não oferece oportunidade de contexto ou de conhecimento das experiências pessoais que levam àquelas ações e comentários. Por último, os entrevistados citam o fato de não terem algo diferente a acrescentar às opiniões já expressadas por outros.

Plataforma – perda de privacidade e permanência das contribuições

Os usuários demonstram duas grandes preocupações. A primeira é com a falta de privacidade. Esse temor refere-se tanto ao uso de suas informações privadas, – se são entregues a terceiros e com que objetivo -, quanto ao uso fora de contexto de suas contribuições em outras publicações. A segunda é a preocupação com a permanência do que é publicado na internet. Esse ponto aparece principalmente entre os entrevistados jovens. Daqui a alguns anos eles podem ter opiniões diversas das expressadas em publicações que fizeram quando eram mais jovens.

Pessoal – Controle de imagem e outras prioridades

Os pesquisadores indicam que o zelo com a carreira também influencia a falta de participação. Entrevistados, nas duas faixas etárias, afirmaram que não se dedicam à participação por falta de tempo e priorização de outras atividades. Entre os usuários com mais de 50 anos a ênfase é no trabalho e entre os usuários com menos de 30 anos, na busca por uma carreira, com estudo e trabalho. Ainda pensando na carreira, as duas faixas etárias se mostram apreensivas com o controle da sua imagem e as consequências que as contribuições na internet podem ter na vida profissional.

Conteúdo – falta de habilidades profissionais

Ambas as faixas etárias entendem que não têm as habilidades necessárias para contribuir com o trabalho de jornalistas profissionais. Os mais novos porque consideram não ter conhecimento o suficiente ou opiniões bem formadas, enquanto os mais velhos entendem que o produto jornalístico é resultado de uma expertise. Que o jornalismo é produzido por profissionais com certas habilidades e que os usuários não teriam com o que contribuir por não as possuírem. Porém, os usuários não destacaram questões relacionadas à falta de habilidade com a tecnologia.

Organização – não convidados ou rejeitados

Os pesquisadores descobriram o engajamento entre os mais de 50 anos depende também da demonstração de interesse de jornalistas e empresas na participação da audiência. Os entrevistados não se sentem convidados a interagir e quando participam é uma via de mão única. A falta de reciprocidade, de um retorno ou diálogo, desestimula o usuário.

Interessado em saber mais sobre jornalismo participativo?

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