Como conectar-se com o público é uma das grandes questões atuais no jornalismo e no marketing. O jornalismo busca redefinir essa conexão em uma realidade completamente diferente da que sustentou a indústria da comunicação por anos. O marketing também se adapta às novas tecnologias. Para isso busca conhecer melhor seu possível cliente e estabelecer estratégias para atraí-lo, adequando o tom e a mensagem.
Historicamente, tanto no jornalismo quanto no marketing a comunicação era padrão e mirava em uma multidão desconhecida. Atualmente temos ferramentas que nos permitem identificar rostos, características e necessidades de nosso público. A teoria da cauda longa nos mostrou que um único discurso não serve para todos. Que temos nichos e oportunidades a explorar.
Quando queremos nos conectar ao outro nada melhor do que escutá-lo. E é essa possibilidade que o Reuters Institute for the Study of Journalism nos dá ao publicar a pesquisa “News for the powerful and privileged: how misrepresentation and underrepresentation of disadvantaged communities undermine their trust in news”.
A pesquisa qualitativa, realizada com 41 focus groups, engloba Brasil, Índia, Reino Unido e Estados Unidos. A análise dos resultados reflete a desconfiança, a falta de representação e a desconexão entre as notícias e a necessidade de informação das pessoas ouvidas na pesquisa.
Muitas das observações feitas pelos pesquisadores já são conhecidas, o que não invalida uma leitura detalhada dos resultados. Um ponto, porém, me chamou a atenção: a percepção de que o jornalista tenta realizar um bom trabalho e é limitado pelas restrições da estrutura da organização.
Entendo que esse é um ponto chave porque as empresas tradicionais de comunicação mantêm equipes extremamente enxutas apostando cada vez mais em material requentado das mídias sociais, contribuições da sua audiência e material produzido por assessorias de imprensa. Como é possível o jornalista conhecer diferentes realidades se ele não vai mais para a rua produzir suas notícias? Como trazer diversidade às notícias se elas são cada vez mais pautadas pelo número de visualizações e compartilhamentos? E como as assessorias de imprensa têm atuado para atender esses grupos que se encontram à margem da informação?
Apesar de a pesquisa focar no jornalismo produzido pela mídia tradicional, tanto as áreas de comunicação organizacional quanto de marketing podem aprender muito com os resultados apresentados. Basta se fazer algumas perguntas. Em sua empresa as informações produzidas são de interesse de diversos públicos? As publicações, sejam notícias ou peças publicitárias, estão baseadas na realidade do seu público ou em uma leitura da realidade moldada à distância? Os diferentes públicos se sentem representados nas publicações de sua empresa? São muitos os ensinamentos que podemos aproveitar para fazer ajustes que ampliem ao mesmo tempo a informação para a sociedade e o alcance de sua marca.